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Politicamente uma garota de programa

Uma garota de programa cede uma entrevista à nossa produção sobre sua vida e como é conviver com o peso de sustentar a profissão mais antiga do mundo

Eram dez para as dezoito quando tive a ideia de entrevistar uma garota de programa. Não por fetiches ou aumentos de ego de um futuro jornalista, mas de respeito à profissão mais antiga do mundo.

Meu primeiro contato com a prostituição foi muito novo. Eu não sabia que elas (as garotas de programa) realmente existiam. Eram mitos na minha cabeça. Eu estava com meu pai no centro de São Paulo próximo à estação da Luz. A garota já era velha, rosto flácido, nenhuma expressão de felicidade genuína na face, recordo-me da blusa xadrez e da saia jeans. Por respeito, penso que não se ofereceu porque meu pai estava comigo, mas iria se houvesse alguma oportunidade. Eu só soube que o mito estava na minha frente quando perguntei e ele me respondeu. Continuamos o passeio. E ela seguiu com sua vida.

Para quem me conhece e sabe, as dezoito horas eu já estaria no meu décimo sono. Mas me vi no Google coletando sites e fontes de contatos com garotas de programa residentes em São Paulo ou na Região Metropolitana que pudessem ceder uma entrevista para mim. Um estudante de jornalismo do primeiro semestre, apenas curioso para desmistificar o curioso submundo da prostituição.

Foram no total vinte e três ligações e trocas de mensagens com diferentes garotas de programa, desde mapoas* até bonecas. Me reservei no direito de procurar apenas mulheres porque possuem maior visibilidade e o contato me parecia mais fácil. Marquei um encontro no dia seguinte perto da Avenida Indianopolis, bairro nobre de São Paulo. Deveria ser rápido e objetivo, afinal, ela não estaria ganhando nada e estava no seu local de trabalho.

Na manhã seguinte eu confesso que gostaria de desistir. Era começo de inverno e eu moro longe para caramba do centro. Mas eu fui e não me arrependi. No trem eu ficava formulando e apagando as perguntas e deixei só cinco questões base, as outras partiriam do meu improviso.

Quando cheguei ao local combinado, próximo ao supermercado Pão de Açúcar lá estava Aline (nome fictício para preservar a identidade da entrevistada), vestido curto preto, saltos altos médios, a bolsa tiracolo, muitos acessórios e batom mate. Nos cumprimentamos e ela pediu para que fosse breve, ela já tinha atendido um cliente e o dia seria “cheio”.

JV: Bom dia Aline, gostaria de saber como você começou no mundo da prostituição?

Aline: Bom dia. Comecei com doze anos por conta da minha mãe… tive que “dar” para um filho de um amigo da família em troca de uns trocados. Precisávamos de dinheiro. Ele ajudou minha mãe a manter a casa depois que meu pai foi embora.

JV: Doze anos? Sério isso? Como você se sente hoje quando lembra?

Parecendo agoniada, ela olha para os lados analisando os carros e se faz breve nas demais respostas.

Aline: Sim, muito sério. Não me lembro muito bem porque foi muito rápido, era a primeira vez dele. Quando dei por mim eu já nem tinha hímen e nem nada.

JV: Como assim nada?

Aline: Dignidade, sabe? Acho que naquele dia minha vida deu um estalo. Não sei explicar, mas mudou tudo.

JV: Você disse quando eu te liguei que não gostaria de falar seu nome, existe algum motivo pra isso?

Aline: Existe sim, no final disso tudo vão continuar me chamando de puta. Meu nome é a única coisa que eu tenho limpa. Deixa puta mesmo.

Alguns carros buzinavam, mas era para as outras colegas da Aline que estavam no outro lado da rua.

JV: Quantos anos você tem e qual sua relação com sua família?

Aline: Pelo meu sotaque você deve ter adivinhado que não sou de São Paulo, né? Sou de Patos de Minas, fica pertinho de São Paulo. Tenho trinta e dois anos, tenho um filho que é de um cliente e ele mora com minha mãe em Patos, porém eu quem sustento a minha casa aqui e a deles lá.

JV: Há quanto tempo você não vê sua família?

Aline: Desde que desmamei ele. Vim para São Paulo apenas para me prostituir. Em Patos todo mundo sabe muito de todo mundo, imagina se descobrem que eu, filha de um dos empresários da cidade, engravidei e ainda por cima de um cliente que eu atendia vendendo meu corpo? Estaria fodida.

JV: E o pai da criança? Você não fez ele sozinho.

Aline: Ele é casado, tem família. Sarna para coçar é a última coisa que quero dar às pessoas. Graças a Deus nunca deixei faltar nada e ele nunca precisou do pai, tenho certeza que minha mãe cuida bem dele.

JV: Ele sabe de você?

Aline: Eu não sei que história contaram à ele, mas eu sei que um dia vou voltar. Essa vida não é para sempre, sabe?

JV: Quando pretende voltar? Tem algum sonho pro futuro?

Aline: Quero quitar minha casa e meu empréstimo no banco, porque vou conseguir alugar aqui e ter uma renda fixa quando eu voltar. E o meu sonho é largar isso aqui. É foda meu, não consigo dormir um dia sem me aperrear com nada. Vem tudo na minha cabeça.

Para você ter uma ideia, eu tenho umas doze cicatrizes de facada ou agressão. Meu silicone deu problema e meus seios ficaram tortos. Fora os julgamentos né? Ninguém quer casar com uma puta, ser amigo de verdade. É loucura.

JV: Existe alguma coisa boa na vida de uma garota de programa?

Aline: Se você descobrir, me conta por favor. Aline e eu rimos.

Tem cliente que quer apenas conversar, e isso vale por tudo. Eu me sinto muito sozinha. Até minha mãe me largou e só fala sobre dinheiro.

JV: Qual foi o maior “perrengue” desde que você largou tudo e veio para São Paulo?

Aline: Com certeza total ter morado em puteiro. Puta que pariu. Aquilo era um inferno. Muita gente invejosa, muitos roubos, agressões, abusos. Quando eu consegui sair eu nunca mais passei perto de um.

JV: Para finalizar, quero que você me diga o que você vê daqui dez anos na sua vida.

Aline: Meu, eu vejo eu e meu filho tomando sorvete. Nunca fiz isso com ninguém e queria muito fazer com ele.

A gente se despediu e eu agradeci a gentiliza e paciência comigo.

No metrô e no trem eu ouvia o áudio toda hora e anotava várias coisas. Como uma pessoa pode ter tantas histórias assim para contar? É fantástico que me fez pesquisar ainda mais sobre isso e depois de uma coleta, reuni alguns dados muito importantes sobre o universo da prostituição e do mercado sexual. Aqui estão eles:

Segundo a FUMEC (Fundação Mineira de Educação e Cultura), o número de brasileiros na prostituição ultrapassa 1, 5 milhão de pessoas, das quais são homens e mulheres e 23% das mulheres estão em situação de desemprego e 55% fazem programas para aumentar a renda.

59% são chefes de família e sustentam os filhos sozinhas. 45,6% tem o Ensino Médio concluído, mas 24,3% não chegaram a terminar os estudos básicos.

Dados coletados na Ong Marias.

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